sábado, 30 de março de 2013

Entendendo Melhor o Expulsivo


O expulsivo é o momento do parto em que o bebê efetivamente nasce. É uma fase rápida do trabalho de parto, em comparação com as fases precedentes (fase latente e ativa da dilatação), que podem durar várias horas - às vezes até mais de um dia. O expulsivo é o momento dos finalmentes do parto: é quando, após uma longa espera, todos os coadjuvantes vão se posicionando em volta da mulher, e iniciando os preparativos para receber o bebê.

Mas você sabe o que está acontecendo com a mulher nesse momento?

 Em primeiro lugar, o bebê desceu. Isso significa que, com a força das contrações uterinas, a cabeça do bebê se inseriu no túnel ósseo formado pelo osso da bacia da mãe. Com isso, a dor das contrações se intensificou e ela agora sente que algo a está "partindo no meio". Essa sensação se deve ao contato direto entre os ossos da mãe e os ossos do crânio do bebê, e desaparece assim que a cabeça termina de passar.


Em segundo lugar,a dilatação se completou, o que significa que já não há mais impedimento para que o bebê desça pelo canal vaginal. Seu corpinho, apertado pelas contrações, é empurrado para baixo, e sua cabeça então começa a fazer pressão no intestino grosso da mãe. É normal, nesse momento, que a mulher diga que está com vontade de fazer cocô. Conforme as contrações vão empurrando o bebê, ele se insere cada vez mais profundamente no canal, e a vontade vai ficando mais intensa. De acordo com diversos relatos, a sensação desse momento é de que a mulher vai fazer o maior cocô de toda a sua vida, e ela PRECISA botar ele para fora AGORA. A força feita na hora do parto é uma força incontrolável (não adianta pedir para a mulher "esperar um pouquinho" porque é impossível, então nem tente, ok?).


A cada força feita pela mãe o bebê desce um pouco mais no canal vaginal, e a cada intervalo entre contrações ele volta a subir um pouco. Nesse vai e vem, a vagina da mulher vai se vascularizando, tornando-se mais flexível graças ao afluxo de sangue, ea cabeça do bebê vai se moldando ao espaço disponível, formando a chamada bossa. É normal que o bebê que nasce de Parto Normal ou Natural tenha o crânio alongado ao nascer. Isso não causa danos ao bebê nem é permanente. Geralmente, em 24 horas, o crânio do bebê já retoma sua forma original.


Para fazer o seu trajeto pelo canal de parto, o bebê precisa se posicionar. Para isso, a mãe também precisa se movimentar. Durante todo o trabalho de parto, é recomendável variar posições, e na fase expulsiva, isso não é diferente. Às vezes é necessário testar várias posições até achar aquela que vai facilitar a saída do bebê. Contar com a ajuda do seu parceiro ou de uma Doula, servindo de apoio para fazer as posições mais exigentes, é essencial.

              

A melhor maneira de expulsar o bebê é deixando a natureza agir sem interromper o processo. Quando a mãe faz força apenas quando e como sente vontade, as chances de laceração diminuem bastante. Mesmo que a mulher não faça força nenhuma na hora do expulsivo (o que é muito difícil, pois a vontade de fazer força é incontrolável), o bebê é expulso do útero pela força das contrações (reflexo de ejeção fetal). Falar AAAAAAA ou soprar o ar durante as contrações do expulsivo permite que a mulher não faça força demais, preservando assim o períneo de lacerações - mas não são todas as mulheres que conseguem NÃO fazer força nessa hora!


O bebê nasce olhando para o bumbum de sua mãe, na grande maioria dos casos. Então a cabeça efetua um giro de 90° e o bebê passa a olhar para a coxa da mãe. Esse giro é necessário para que o bebê possa então passar seus ombros. É comum que o bebê pare com a cabeça do lado de fora e o corpo ainda dentro do canal vaginal durante alguns minutos. Isso não faz mal ao bebê, e é essa compressão que faz ele expelir todo o líquido amniótico que se encontrava em seus pulmões e estômagoÉ graças à essa compressão que os bebês nascidos por via vaginal têm mais facilidades para respirar do que os bebês nascidos por via cirúrgica. Muitas vezes, ao passar o corpo pelo canal vaginal, o intestino do bebê também se esvazia, e ele faz o chamado mecônio (um cocô verde mucoso).


Quanto mais vertical a mulher estiver no momento do expulsivo, melhor! Isso porque a gravidade ajuda o bebê a descer, permitindo que a mulher faça menos força do que se estivesse deitada. A posição vertical também permite maior mobilidade dos osso da pelve, e consequentemente um aumento de até 30% do espaço que o bebê terá para passar. As posições de quatro, de cócoras e de joelhos são consideradas as mais fisiológicas para parir, e é possível observá-las em diversas culturas ao longo da história da humanidade. A posição deitada de barriga para cima, além de ser a mais desconfortável para a mulher, ainda dificulta a saída do bebê, ao impedir a livre movimentação da pelve. É bom evitá-la sempre que possível.


O expulsivo termina com o nascimento do bebê, que pode então ir para o colo da mãe para iniciar sua adaptação à vida extra-uterina.O ideal é que o cordão umbilical não seja clampeado nos primeiros minutos de vida, para que essa transição seja menos traumática, e o bebê continue recebendo sangue e oxigênio da placenta até conseguir efetivamente respirar. Quando isso acontece, o cordão umbilical, agora obsoleto, se esvazia de seu conteúdo, e a placenta então vai se soltando da parede uterina. Acontece então a dequitação.

Veja a seguir um vídeo que mostra bem o bebê girando durante o expulsivo. As imagens são dos anos 70, portanto algumas práticas, como colocar a mulher deitada de barriga para cima, já estão um pouco desatualizadas. É interessante observar como se dá o nascimento do bebê sem que seja feito nenhum procedimento ou intervenção direta nesse momento:



PROCEDIMENTOS MÉDICOS COMUNS NO EXPULSIVO


Ainda são procedimentos comuns nos hospitais brasileiros:

  • POSIÇÃO DE LITOTOMIA E MANOBRA DE VALSALVA




A posição de litotomia (deitada de barriga para cima) é a mais desconfortável para a mulher, e a obriga a fazer força contra a gravidade durante o expulsivo. Nessa posição, o osso da pelve encontra-se imobilizado, e consequentemente é mais trabalhoso para o bebê posicionar-se para nascer. O espaço para sua passagem também se encontra reduzido, tornando o parto mais difícil e dolorido.A força prolongada e dirigida (manobra de Valsalva) é rotina na maioria dos hospitais, apesar de estudos apontarem que ela não traz nenhum benefício e pode até prejudicar as trocas gasosas entre mãe e feto. A mulher deveria poder fazer força como e quando sente vontade durante seu parto; não é necessário que digam a ela como deve fazer e, muitas vezes, isso mais atrapalha do que ajuda.

  • EPISIOTOMIA

Episiotomia (corte na vagina) é feita no momento em que a cabeça do bebê está passando. É uma prática sem embasamento científico, na maioria das vezes feita por hábito do profissional. De acordo com a obstetra Melania Amorim: "Se o corte foi "pequenininho" e "bonitinho", não era necessário MESMO. Por outro lado, as lacerações espontâneas, ao contrário do que dizem os velhos tratados, NÃO são mais difíceis de se reparar que a episiotomia, normalmente requerem menos pontos, são menos profundas, não envolvem 5 grupamentos musculares, algumas sequer necessitam de sutura. Por fim, a única forma de se obter períneo íntegro (nossa meta) é NÃO fazer episiotomia. Mesmo em mulheres sem absolutamente qualquer preparação durante a gravidez, sem massagem, sem Epi NO, somente com cuidados intraparto eu consigo 55% de períneo íntegro nos partos sem episiotomia." Fonte
  • MANOBRA DE KRISTELLER

A Manobra de Kristeller é um procedimento que ainda é, infelizmente, bastante comum nas maternidades brasileiras, apesar da Organização Mundial da Saúde classificá-lo como um procedimento frequentemente usado de forma inadequada. Trata-se de fazer uma pressão no fundo do útero da mulher durante o expulsivo, para empurrar o bebê para fora. Essa manobra é extremamente dolorosa, e pode ter consequências extremamente desagradáveis, como prejudicar a oxigenação do feto, causar edemas no colo do útero e na vagina, causar enormes lacerações vaginais e até mesmo trincar ou quebrar costelas da mulher.


Um comentário:

  1. Boa Noite!
    Tive um desses partos humanizados, agradeço pela minha filha ter vindo de forma natural, mas repudio esses profissionais mal preparados que o nosso governo contrata.
    Devido a falta de informação destes eu me predispus a todo trabalho pré- parto possivel...
    Não me fizeram episeo acabei tendo lacerações frontais vaginais, destruindo o lado esquerdo do meu clitoris e meu grande labio...
    Agradeço por estar sendo lida esta msg, pois estou em depressão por isto, o que me ajuda a cada dia é ter certeza que minha filha recem nata precisa muito de mim...
    estou aberta a entrevistas
    cr.professora@gmail.com

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